segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Preformismo e Epigénese

Ao longo da história, o ser humano sempre demonstrou profundo interesse em conjeturar explicações acerca do mundo que o rodeia, dos fenómenos que lhe estão associados e sobre si mesmo. O inconformismo, a não-aceitação de uma ideia, de uma visão, de um princípio com a apresentação de objeções permitiu, desde sempre, a evolução do conhecimento científico.
Uma das questões que sempre interrogou o Homem recai sobre a forma como o genótipo (conjunto de genes individuais de cada ser vivo) influencia o comportamento de um indivíduo. Surgiram, então, duas principais perspetivas sobre a ação genética: uma que privilegia o papel da hereditariedade (teoria da preformação); outra que admite que o meio desempenha um papel importante no desenvolvimento individual (teoria da epigénese).



O preformismo (também conhecido por maturacionismo ou geneticismo), teoria formulada em meados do século XVII, defende que o ovo continha um ser em miniatura, completamente formado a nível físico e mental (o homúnculo). Desta forma, o desenvolvimento do indivíduo limitava-se à simples ampliação do homúnculo. Esta conceção não admite que o meio tem qualquer influência no desenvolvimento do indivíduo. Esta linha de pensamento dividiu-se em dois "ramos". Um dos "ramos" era constituído por cientistas que defendiam que o futuro ser já se encontrava em miniatura no espermatozóide. O outro era constituído por aqueles que afirmavam que o novo ser existia preformado no óvulo. No século XVIII, Charles Bonnet (naturalista suiço), reafirma que o desenvolvimento embrionário era apenas uma ampliação do homúnculo. Assim, esta conjetura apoiava que o ser humano era determinado apenas por factores genéticos  determinismo hereditário (ou seja, o desenvolvimento depende apenas da componente hereditária). A crença nesta teoria justifica o facto de, na altura, as crianças serem vestidas e abordadas da mesma forma que os adultos.



Por outro lado, em 1759 (séc. XVIII), Caspar Wolff (biólogo alemão) nega a teoria do preformismo, apresentando uma nova perspectiva – a teoria da epigénese. Segundo esta conceção, não existe um ser em miniatura no ovo, mas sim um ser incompleto que se vai desenvolvendo e cujas características físicas e mentais são construídas a partir dos genes e da sua interacção com o meio. Ou seja, no processo de desenvolvimento do embrião até ao ser adulto, o indivíduo vai adquirindo potencialidades que não preexistiam no ovo, mas que vão surgindo das várias experiências que vive. Portanto, o genótipo é apenas um conjunto de informações que podem ou não manifestar-se.



Como podemos ver, a visão epigenética sobre a evolução dos indivíduos é a mais correcta. Isto porque na realidade os seres humanos nascem inacabados, com menos capacidades do que aquelas que terão em adulto. Por exemplo, um recém-nascido é, durante algum tempo, incapaz de comunicar verbalmente. Vai aprendendo a fazê-lo de acordo com aquilo que presencia no meio em que se insere. Deste modo, aprende o idioma que o meio à volta dele utiliza.

Portanto, o desenvolvimento do ser humano não é como uma simples ampliação de uma fotografia, na qual o ser em miniatura se limita a crescer. Pelo contrário, o desenvolvimento resulta de um conjunto complexo de interações entre a hereditariedade, o meio físico e o meio social em equilíbrio.


Joana Guimarães

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