Uma criança representa um ser humano no início do seu desenvolvimento. É durante este período que este
Na idade média, ignoradas as características fisiológicas, as crianças eram tratadas como adultas. Hoje em dia, tal feito é punível e repugnado. Tal facto leva a pensar que as fases da vida e a forma como estas são encaradas está ligada à cultura e aos interesses de cada época.
Então, o que é ser criança nos dias de hoje? Constataria que numa sociedade de consumo, que presencia o avanço das tecnologias, o frenesim e o "stress" dos cidadãos, devotados para a incessante procura do poder e do dinheiro, não deixa dúvida de que ser criança já não é a mesma coisa do que era há algumas décadas atrás.
A estrutura familiar sofreu mudanças. Observa-se cada vez mais um crescimento rápido das crianças. É certo que desde sempre uma das brincadeiras preferidas das criança é vestirem-se, imitarem e fingirem ser um adulto. Não se trata de algo prejudicial, pelo contrário, é com estas brincadeiras que a criança aprende sobre os vínculos sociais e a convivência na sociedade. Mas hoje em dia parece haver a necessidade de entrar na vida do mundo adulto desde muito cedo. Isso fica evidenciado quando observamos a vaidade excessiva, os novos costumes e a nova rotina das crianças. Seja a criação extremamente precoce de perfis em redes sociais, a preocupação com roupas, cabelo e maquilhagem ou utilização de telemóveis e aparelhos de tecnologia avançada, o certo é que as crianças de hoje querem à viva força participar fluentemente no “universo dos adultos” o que as leva a pensar que podem e devem agir de forma igual sem se preocuparem com as experiências e a bagagem cultural já vivida por um indivíduo adulto.
Também se verifica um progressivo aumento do nível da agressividade nas crianças. Cada vez mais se torna usual a visualização de notícias relacionadas com a prática de bullying nas escolas. Essa agressividade estende-se a vários níveis. É de igual modo usual observar a agressividade das crianças para com os pais. A prática das boas maneiras foram quase como passadas para plano de fundo. Se outrora quem ditava as regras eram os pais, hoje em dia, são os pais que se vêm regidos pelas regras implantadas pelos seus filhos.
Crê-se que a principal fator desta mudança de comportamento encontra-se no desequilíbrio existente entre a influência familiar e a influência externa exercida sobre as elas. A maior parte dos pais passa muito tempo a trabalhar fazendo com a educação dos seus filhos fique entregue a professores, familiares, babysitters. Não existe uma voz de liderança ou alguém em que a criança se possa espelhar. Os pais por culpa da ausência acabam por agir de forma permissiva. Deste modo, as crianças vão crescer sem limites, sem parâmetros. Tornam-se pequenos ditadores e, posteriormente, adolescentes que acreditam poder fazer o que bem entenderem. Algo que acaba por se repercutir nas suas relações futuras, nomeadamente na escola com os professores. A falta de controlo, por parte dos pais, quanto ao uso de computadores expõe as crianças a um conteúdo com o qual elas muitas vezes não estão maduras o suficiente para lidar. Sem ainda possuir capacidade crítica, a criança acaba por acreditar em tudo o que vê. A família é a matriz da identidade das crianças. Daí a importância da sua presença durante o seu desenvolvimento e formação.
Em suma, o que podemos ver hoje é que as crianças brincam cada vez menos e constroem menos brincadeiras coletivas. É a brincar que a criança desenvolve as capacidades de atenção, memória, imaginação e socialização.
Atualmente o ato de brincar que, representa a essência de ser criança, foi trocado por consolas, videojogos, televisão ou computadores. Se outrora ser criança era ser explorador e encarar o mundo como novidade, encontrar beleza nas coisas mais simples, hoje em dia, para elas, ser adulto parece mais interessante, mais correto impondo, deste modo, um crescimento acelerado e não sustentado. Promovendo a que a perda da inocência se dê muito mais precocemente ou se enverede por caminhos mais promíscuos ou degradantes.
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Carolina Veiga