O ser humano é um ser biológico e social. Com isto o psicológico Henri Wallon definiu o ser humano como um ser biologicamente social. Desde o nascimento até ao fim da sua vida, o ser humano vive integrado na sociedade, pois é lá que encontra as respostas às suas necessidades. Todos nós somos dependentes, pois precisamos dos outros para o nosso bem-estar físico e psicológico ao longo de toda a vida. A vocação social manifesta-se logo após o nascimento nas relações precoces que o bebé establece com a mãe e com os adultos que cuidam do recém-nascido.
É nas relações com os outros que o nosso eu se constrói e que explicam o que pensamos, o que sentimos, e o que aprendemos. As relações precoces são a base da construção de relações com os outros e na construção do eu psicológico.
Imaturidade do Bebé Humano
Quando o ser humano nasce, nasce como um ser imaturo. Essa imaturidade torna-o dependente, durante muito tempo, dos adultos: para se alimentar, ser protegido… Prematuro, precisa dos cuidados dispensados, nos primeiros anos de vida, pelos pais, ou outros cuidadores, para poder sobreviver física e psiquicamente.
Hospitalismo
René Spitz, psiquiatra infantil com formação psicanalítica, designou por hospitalismo o conjunto de perturbações vividas por crianças institucionalizadas e privadas de cuidados maternos: atraso no desenvolvimento corporal, dificuldades na habilidade manual e na adaptação ao meio ambiente, atraso na linguagem. Os efeitos do hospitalismo, presente nas crianças que foram abandonadas em orfanatos ou asilos, são duradouros e muitas vezes irreversíveis.
Spitz desenvolveu um conjunto de pesquisas em crianças que, durante os primeiros meses de vida, permaneceram um período prolongado numa instituição hospitalar ou num orfanato, privadas da presença da mãe.
Estudou as consequências e concluiu que os bebés apresentavam perturbações somáticas e psíquicas como resultado da ausência completa da mãe numa instituição em que os cuidados são administrados de forma anónima, sem que se estabeleçam laços afetivos. Do ponto de vista do cuidado físico, estavam asseguradas as condições fundamentais de higiene e de alimentação; do ponto de vista afetivo, constatou uma carência afetiva total, porque cada adulto tinha à sua guarda várias crianças.
Durante uma epidemia, as crianças do orfanato eram dramaticamente menos capazes de resistir à doença, em comparação com crianças de famílias vizinhas. 34 das 91 crianças do orfanato morreram, comparativamente com quase nenhuma das outras crianças da área.
Com isto, Spitz confirmou a necessidade de laços e de contactos afetivos entre o bebé e o adulto, especialmente entre a mãe e o filho; a sua ausência pode conduzir a perturbações emocionais, comportamentais e desenvolvimentais graves. A ausência de uma relação privilegiada com a mãe ou com um agente maternante, isto é, um adulto que a substitua, tinha como consequência a recusa em se alimentar, a perturbação do sono, a manifestação de comportamentos ansiosos. O desenvolvimento normal da criança ficava comprometido. O sentimento de abandono e ver-se sem uma figura securizante comprometia o equilíbrio das crianças.
Estas conclusões levaram a Organização Mundial de Saúde, em 1950, a incluir nas suas orientações um documento (Cuidados maternos e saúde mental), onde se afirma:
“… fica claramente demonstrado que os cuidados maternos no decurso da primeira infância desempenham um papel essencial no desenvolvimento harmonioso da saúde mental”.
Ana Alves, nº1
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